Tele-aulas fuckin' rulez!
Hoje pipocou um email na minha caixa postal daqui do Banco, era o chefe convocando todo mundo pra ver uma tele-aula sobre o novo SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro). Que chatice... fazer o quê... me agendei para a segunda "sessão" da tele aula.
Os caras da minha sala desceram e foram assistir à primeira sessão. Na volta, perguntei:
- E aí, é legal o treco?
- Nó, Tinoco, é um saco...
- Argh, não me desanima não...
Na saída para o auditório, um cartaz no corredor fazia propaganda da Tele Aula. E tinha uma propaganda de um véio esquisito no cartaz.
- É esse cara que cê vai ver na tele aula... - me disseram.
Chegando lá, auditório cheio, ar condicionado no talo e um frio de rachar. Acho que é intencional, pra dar sono. Uma funcionária do RH começa a sessão:
- Gente, cês receberam esta apostila sobre o SPB né?
- Siiiiim... - respondem todos em coro
- E vocês leram, né?
- Er, bem... - o burburinho e as risadinhas diziam que, obviamente, não. Detalhe: Eu até tentei ler, mas fui corajosamente apenas até a página 10. Depois me cansei do vocabulário de contador que usaram.
A mocinha do RH lasca a fita no vídeo e dá um play. E, naquele instante, toda aquela baboseira começou a ficar interessante...
Mas não foi por causa do conteúdo. Ou melhor, até foi, mas não pela razão que vocês estão pensando.
Na tela, um logotipo medonho com as letras "F" e "D". Em "arial". E embaixo, a legenda: "Falando de Dinheiro". Sim, a tele-aula ia ser dada no formato de um programa de entrevistas... uma abordagem criativa, mas que quando é mal feita... (o que, obviamente, foi o caso).
Surge a entrevistadora: "Oi, meu nome é Vivian Cash e vocês estão assistindo o 'Falando de Dinheiro'". Que diabo de nome é Vivian Cash?!? As risadinhas começam... e Vivian Cash continua: "Hoje vamos entrevistar o Professor Boanerges Câmara"... e mais risadinhas. Que diabo de nome é esse?
A tele-aula, pelo menos pra mim, foi hilária. Uma aula de como NÃO se faz treinamento. Em determinados momentos, o tal professor terminava de responder uma pergunta, mas a edição da fita era tão mal-feita que sobrava uns 2 segundos de câmera sobre ele, e você podia ver o ator sem saber o que fazer, olhando pro lado meio de "soslaio" como quem diz: "E agora, diretor?". Os erros de continuidade eram mais que constantes: uma hora, estava a câmera só na Vivian, de braços cruzados. Depois, cortava para a câmera geral e lá estava a Vivian magicamente com os braços descruzados...
Mas o pior eram as piadinhas: No começo da fita, Vivian cumprimenta o Professor Véio lá:
- Boa noite, Professor...
E responde o véio, que tinha a língua presa:
- Boa noite Vivian, boa noite telexpectad... - e, olhando em volta com uma cara (forçadíssima) de desorientado, diz - ué, em qual câmera... ah, aquela! Boa noite, telexpectadorex...
E eu gargalhava mentalmente de satisfação...
Mais tarde, a Vivian fez uma conta de exemplo, para entender o conceito de "saldo disponível", e o Professor soltava a bomba: "Muito bem, extá afiada hein Vivian!". E os dois atores riam aquela risada forçadíssima, sem-graçíssima, de quem está pensando: "mas que merda de texto foi esse que me deram?!".
Mais tarde, o Professor começa a falar das novas tarifas... "Veja por exemplo, ax tarifax novax são ax seguintex... oh, que bom, elax já extão aparecendo na tela! Haha!"
Apareceu uma tabela por cinco segundos e sumiu. Não deu pra ler nem metade do que estava escrito. O auditório inteiro ainda estava rindo dessa gafe quando a Vivian diz:
- Professor Boanerges, mais uma pergunta
E parecendo o "Tio Sukita", o Professor destrói:
- Ah, Vivian... pode me xamar de "B.C."...
Siiim, claro! Essa foi uma piadinha!! B.C.... Banco Central!! Que criatividade destruidora essa hein... e quando a fita estava acabando e eu não achava que podia ficar pior, eis que surge o Sr. Diretor Executivo do Banco na tela...
Nunca vi nada tão engraçado: O cara parecia uma múmia, sentado, quase deitado num sofá, de pernas cruzadas, imóvel e duro, muito duro de nervoso. Os sintetizadores de voz das músicas do Kraftwerk falavam com uma voz menos monótona e robótica que a dele. O cara parecia que tava morto de tão lento e desanimador. Daí vem a legenda, com o nome do cara: O sobrenome era "Cançado". Nada mais apropriado. O Cançado começou a falar:
- Colegas...
E chamou a gente de colegas o tempo todo, na maior falsidade do universo. Daí a fita acabou, e eu saí rachando de rir... e pensando mais uma vez: "O que diabos eu estou fazendo trabalhando aqui?"