O Primo na Academia
Antes de mais nada, eu odeio exercícios físicos. Você sua e fica nojento, leva três horas pra voltar à temperatura normal, o corpo dói todo e, no final de tudo, você gastou um monte de energia pra fazer coisa nenhuma: andar numa bicicleta que nem se moveu, levantar um peso que continua no mesmo lugar... essa idéia do trabalho inútil (tá, pode rir) me deixa neurado.
Mas como eu estou muito gordo e isso não é nada saudável e como não há nada que eu odeie mais em mim do que minha "barriga de cerveja feita sem cerveja", adotei a filosofia do "no pain no gain" e fui à academia hoje. Fui fazer uma aula experimental de spinning.
Spinning é uma daquelas "ginásticas da moda": a aula toda é numa bicicleta ergométrica, com musiquinhas dance o tempo todo e um instrutor monstruosamente musculoso que fica gritando palavras de estímulo como :"Vaaaaai!!! Mais ráááápido!!!". Aí, pedala-se em pé, sentado, devagar, correndo igual doido, com a mão aqui, ali, acolá...
Como era sexta-feira a aula estava vazia: eu, o instrutor e mais duas pessoas. O instrutor tinha o apelido de "feijão" (sabe lá Deus porquê). De início, o "Feijão" ia explicando como preparar a bicicleta: altura do banco, do guidão, etc... sentei na bicicleta e a aula começou.
A aula ia indo bem, tudo tranquilo... pelos primeiros dois minutos. Cansado, comecei a diminuir o ritmo : e o Feijão gritou: "Aííí! Levanta!!! Põe carga na bike e acelera!!". E eu realmente me senti na minha lenta e torturante morte chamada malhação. O Feijão, vendo meu cansaço, vira pra mim e pergunta: "Você trouxe uma garrafinha de água?". Fiz que não com a cabeça e ele fez aquela cara de "Isso não é NADA bom". Mas, gentil como um, er, "feijão", ele me arrumou uma.
E a aula foi indo, e eu me esforçando pra manter o ritmo (impossível). A coisa realmente foi ficando preta quando começou a tocar Jota Quest, a terceira música. Até meus ombros doíam. A sola dos meus pés formigava e o único pensamento que vinha em minha cabeça era: "isso é suicídio. E as pessoas pagam pra fazer isso". Aí, olhei para o relógio, imaginando que naquela altura a aula já estava acabando.
Faziam DEZ MINUTOS que eu estava pedalando.
Olhei para frente: no espelho, via minhas coxas com o DOBRO do tamanho normal, inchadaças pelo esforço. Eu estava anormalmente diferente, morrendo aos poucos, e pedia pelo amor de Deus para que aquilo acabasse rápido. Aí, começa a tocar: "I feel good!! Tchararannarararan"... Irônico né...
A música que veio na sequência foi aquela com o sample do filme que o cara fica gritando "All right, pussy! Pussy! Come on in, pussy!". E a música seguia: "White pussy! Black pussy! Red pussy! Bald pussy!", e a última coisa na qual eu conseguia pensar era em "pussy"... aí, a música foi acabando e o Feijão gritou: "Aí, mais uma pra acabar!!"
Aliviado, pensei: "Meu Deus, eu vou sobreviver a isso! Com todas as coronárias inteiras!"
Depois de mais uma tortu... digo, música, veio um reggae para relaxar...aí, era só pedalar e alongar os braços e ombros. Depois, paramos e fizemos alongamento nas pernas... e eu havia sobrevivido aos 40 minutos mais longos da minha vida. Mas o mais interessante estava pra começar.
Fui ao vestiário tomar um banho... parei em frente ao espelho e olhei para as minhas pernas desumanamente inchadas. Eu estava monstruoso, só não fiquei mais desproporcional porque a barriga também está grande. Eu estava meio tonto e tremia igual vara verde. O mais engraçado era ao levantar a perna: ela pareceia pesar uma tonelada. Pior ainda... eu fazia isso no banho e ficava rindo sozinho... mal sabia eu o que estava acontecendo.
O que estava acontecendo tem nome: endorfinas...
Aí tudo fez sentido: eu estava dopado de endorfina. Quase tropecei na escada de saída da academia, e aquilo foi a coisa mais engraçada do mundo... peguei o carro para almoçar e o dia estava lindo, radiante, ensolarado... era uma felicidade quase gay. Cheguei ao restaurante para almoçar dando um sorridente "boa tarde" para o caixa, o garçom... colocava a comida no prato falando sozinho ("Quero isso, um pouco disso, hmm e mais isso..."), sentei na mesa com um prato cheio de cenoura, beterraba, repolho, alface e outras coisas extremamente nutritivas (ou seja, com gosto horrível) e, como um imbecil, falava "hhmmmmm" a cada garfada.
Eu parecia um idiota drogado.
Por sinal, sabia que endorfinas chamam-se endorfinas por serem "morfinas endógenas"? Agora dá pra entender porque tem tanta gente viciada no mundo.
Justiça seja feita: eu quase morri, suei como um porco, paguei um mico no meio dos atletas saradézimos da academia... mas tou rindo até agora.