Era mais ou menos uma e quinze da manhã, eu e Bethania ainda estávamos assistindo a GloboNews. O apresentador do "Em cima da hora" tinha acabado de receber a lista de passageiros do vôo, e começou a ler os nomes. A cena foi muito triste: o helicóptero mostrava o local do acidente, as chamas e os escombros, e o repórter ia dizendo, pausadamente, os nomes dos mortos.

E eu acompanhava a lista, nome a nome, para ver se conhecia alguém. A empresa de consultoria onde trabalho é muito grande, tenho centenas de "colegas de trabalho" que passam a semana toda voando pelo Brasil. A probabilidade de ter alguém conhecido naquele vôo era grande. Tanto que, logo que soube do acidente, tratei de me certificar de que um amigo, alocado num projeto no Rio Grande do Sul, estava bem. Felizmente, até agora não estou sabendo de nenhum colega morto no vôo.

Esse tipo de acidente tem um impacto muito forte pra nós, que viajamos muito e que, consequentemente, passamos por Congonhas o tempo todo. Ver as imagens do acidente, ontem, na TV, era mais assustador que o normal. A imagem do prédio da TAM atingido pelo avião não é uma imagem qualquer pra quem estava acostumado a passar em frente a ele, toda semana.

O susto também é pior para as famílias de quem viaja muito. Até meu pai me ligou ontem à noite só pra confirmar que eu estava realmente aqui em Belo Horizonte. Da minha parte a coisa foi pior ainda: Bethania havia passado o dia no Rio e estava numa reunião bem ao lado do Aeroporto Santos Dumont, que teve um princípio de incêndio. E ela tinha uma reunião hoje, em São Paulo, que acabou cancelando. Congonhas já voltou a funcionar, mas ela e eu não achamos que a pista é segura.

Antes de dormir, nós rezamos pelos mortos do vôo e pedimos a Deus - a última e, pelo visto, única esperança - para ajudar a resolver a irresponsabilidade e falta de profissionalismo da aviação brasileira.