A TI e o eterno foco em si mesma
Um momento clássico do ótimo seriado The IT Crowd (terças às 22:00 no canal Sony) é quando o telefone toca. Normalmente Roy dá um longo suspiro, tira o fone do gancho e diz exatamente as mesmas palavras: "Alô, TI, já tentou desligar e ligar de novo?"
O mais engraçado disso é que eu já fui exatamente assim. A minha formação é de TI, e confesso: passei anos atendendo telefonemas de usuários com a mesma má vontade do Roy.
Há uns cinco anos eu larguei a TI e fui trabalhar com consultoria em gestão. E o mais divertido dessa guinada maluca da minha carreira é que ela me mostrou exatamente o porquê de muita gente em TI - inclusive eu - trabalhar da mesma forma que o pessoal do seriado: o foco nos meios e não nos fins.
Pensa bem: o cara entra pra faculdade e aprende a fazer programas, manter bancos de dados, construir sistemas, etc. Passa quatro anos vendo linhas de código o dia inteiro e sai meio baratinado, achando que seu trabalho é lidar com computadores - e só com computadores. Neguinho se esquece que computadores precisam funcionar porque outras pessoas usam computadores pra trabalhar. A tecnologia passa a ser fim, e não meio.
E aí acontece esta coisa bizarra: quando o telefone toca, o cara de TI pensa: "droga, estão me atrapalhando no meu trabalho de manter computadores funcionando". E esquece que quem está ligando é exatamente a pessoa que precisa dos computadores funcionando!
Até dá pra justificar parte desta história de "a TI pela TI". A computação é território predileto de nerds com pouca habilidade social (incluindo eu mesmo), o que faz o teclado ser preferível ao telefone. Os caras trabalham num porão ou sala distante, sem janelas (por causa do ar condicionado que mantém os servidores), longe de outras pessoas mas cercados de máquinas. E, pra quem gosta, a TI é tão interessante e absorvente que esse papo de "contato com luz do sol, ar livre e outros seres humanos" acaba ficando pra depois.
Acho que os cursos de computação e tecnologia da informação que se dizem orientados para o mercado deveriam separar um momento no curso, para ensinar aos futuros bacharéis a real razão da existência do emprego deles. E mais: não só para TI mas para tudo na vida, o foco nos fins ao invés dos meios é o diferencial de quem se dá bem.