Esse mês quase não deu pra fazer esse post, por causa da mudança.

Como de costume, tudo comprado na eMusic, exceto o cabeça-de-rádio. E não, eu não ganho jabá da eMusic nem nada. Sou apenas um cliente feliz.

Simian Mobile Disco - Attack Decay Sustain Release

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Este disco gira na esfera daquela modinha chata de lançamentos meio "electro" meio "new rave". Entretanto, meus amigos... ele é um dos melhores discos do ano de 2007.

Lembram de 1996, quando o Daft Punk lançou o "Homework", aquele disco que não tinha nada de mais, que havia sido produzido no quarto dos caras, mas que era absurdamente bom e virou um clássico? O A.D.S.R. é bastante parecido: não tem nenhuma firula de produção, não usa sintetizadores supermodernos, não tem vocalistas maravilhosas cantando letras poéticas nem nada. Mas é autêntico, é energético, é cru e vibrante como há muito tempo não se ouvia.

Chega a dar pena a comparação do Simian Mobile Disco com o resto das bandas da ondinha modernosa "electro new rave", que se levam muito à sério e fazem um esforço sobre-humano para soarem divertidas e parecerem cool - e falham miseravelmente ao fazer música prepotente e artificial. É justamente este o erro que o Simian Mobile Disco não comete e que o coloca anos-luz à frente dos seus compatriotas de gênero.

"Hustler", a faixa 4, é, de longe, a melhor música que ouvi este ano. Tanto que devo tê-la ouvido umas duas ou três vezes só enquanto escrevia este post. E, segundo meu iTunes, mais umas vinte vezes desde que comprei o disco. E "Hustler" não tem absolutamente nada de mais: bateria, texturas ácidas e uma menina contando (nem é cantando) algo sobre roubar discos de uma loja. Mas funciona de um jeito que chega a dar arrepios - literalmente. Os clipes de "Hustler" (tem duas versões) não deixam por menos e são imperdíveis. Destaque também para "Hotdog", cuja letra imbecil acaba ficando divertidíssima, e "It's the beat", que vai te ganhar nos cinco primeiros segundos.

Radiohead - In Rainbows

20071204_3 Pois é. Eu fui uma das raras pessoas que pagou pelo In Rainbows. E confesso que foi uma das piores compras do mês.

Ok, neste momento eu tenho certeza que suas sobrancelhas subiram e/ou o queixo caiu. Talvez até minha mãe tenha sido xingada. Então vou medir muito bem as palavras que escreverei daqui pra frente, mas conto com você pra lê-las com atenção e sem preconceitos.

Observe que eu não disse que o "In Rainbows" é ruim - de fato, ele é muito melhor do que o que anda sendo produzido pelo mundo. Mas o Radiohead não é uma bandinha iniciante: eles tem uma carreira sólida, uma puta reputação (desculpe a cacofonia) e um histórico de lançamentos que inclui clássicos de renome, como o "OK Computer" e o "Kid A". Assim sendo, é natural que as expectativas para uma banda do cacife do Radiohead sejam, naturalmente, altos. O que se espera de um disco de uma grande banda - seja o segundo, o sétimo ou o décimo nono disco - é que ele apresente uma evolução da música que a banda produz - mesmo que o disco não seja melhor que o anterior.

Considere, por exemplo, o Sonic Youth. Thurston Moore não tem mais seus vinte-e-poucos anos. Kim Gordon já é mamãe. Lee Ranaldo hoje é um tiozão. Mas o som do Sonic Youth continua decidido a andar por caminhos diferentes e a buscar novidades. A raiz de experimentalismo dadaísta da época do "Confusion is Sex" foi se refinando até ficar quase pop com o "Dirty", depois melódica-desafinada em "Washing Machine", depois psicodélica e progressiva em "Sonic Nurse" e depois rock'n roll como-nos-velhos-tempos em "Rather Ripped". O Sonic Youth tem uma alma fixa e um corpo diferente a cada "encarnação" em forma de disco - e, pra mim, essa é a característica mais marcante de uma boa banda.

Acontece que, no caso do Radiohead, a sequência de inovação, de renovação que começou na dupla "Kid A/Amnesiac" começou a se perder no "Hail to the thief". E aí veio o "In Rainbows", que, sonoricamente, parece não pertencer a lugar nenhum dentro da linha do tempo do Radiohead. As músicas parecem ocas. Algumas faixas se apóiam apenas na voz de Thom Yorke, que, convenhamos, não é nenhuma Björk. E a produção, espartana, faz escolhas esquisitas como em "Faust Arp" - o que diabos aquelas cordas estão fazendo ali? E que violão estilo "Garth Brooks" é aquele?

Por isso, é com muita pena que eu digo que o In Rainbows é o Radiohead em um de seus piores momentos. É uma pena mesmo, considerando o contexto inovador do lançamento e a repercussão que teve. Pudesse eu pagar pelo disco depois de ouví-lo e eu não pagaria nem a metade do que paguei.

Harmonic 33 - Extraordinary People

20071204_4Viagens hip-hop inspiradas em soundtracks de antigamente, com uma levada sossegada, samples "amigos" e um eventual clima retrô para acompanhar. Até sua vó poderia gostar de "Extraordinary People" - e, não, isto não é uma ofensa. Pelo contrário!

Aparentemente o Harmonic 33 pertence ao time de bandas como o Nightmares on Wax ou o Lemon Jelly, que fazem discos para descansar as pessoas musicalmente, er, "ousadas". O "Extraordinary People" é uma massagem para os ouvidos estropiados com texturas dissonantes, contrastes exagerados e outras esquisitices. Desce macio e reanima.

E, por incrível que possa parecer, Mark Pritchard e Dave Brinkworth, os produtores do disco, NÃO são dois negões.

Kavinsky - 1986

20071204_2 Este EP segue o mesmo caminho despretensioso do Simian Mobile Disco, com a diferença de que soa mais anos 80, mais música de videogame - o que fica óbvio já a partir da capa.

É uma fórmula batida, eu sei, mas funciona que é uma beleza. Os únicos pecados deste disco são seu tamanho e a similaridade um pouco exagerada com o Daft Punk das antigas. Afinal, uma coisa é usá-los como inspiração, outra é usá-los como... bem, muita inspiração.

Destaque para "Grand Canyon", que parece ter sido tirada diretamente de uma propaganda do Commodore 64.

Telefon Tel Aviv - Fahrenheit Fair Enough

20071204_5 Em Fahrenheit Fair Enough, o nome de disco mais difícil de digitar que existe, o Telefon Tel Aviv fez algo que poderia ser resumido como "caprichado".

As músicas transitam numa faixa bem no meio do digital e do analógico, compondo um eletrônico "des-artificializado", melódico. Texturas acústicas, "normais", navegando entre batidas digitalescas que às vezes parecem estar prestes a ter um ataque de nervos - mas numa boa, sem perder a pose.

O resultado é um disco que, apesar de às vezes pegar emprestada a dislexia e a falta de coordenação de alguns gêneros de música eletrônica (leia-se IDM), acaba produzindo faixas ricas, narrativas, concisas. Como "John Thomas on the Inside Is Nothing But Foam" que, de tão bem concebida, parece uma música do Tortoise.